quarta-feira, março 15, 2006

Bettencourt, ele também sabia

Exercicio de 2001/2002... 22 milhões de euros de défice

Tem uma aura de pessoa competente e séria e o respeito da generalidade dos Sportinguistas.

Não sei se é sério ou não, é algo que implicaria um maior conhecimento da pessoa e de acontecimentos que se passaram com ou sem o seu conhecimento.

Agora competente certamente não é, mesmo que na entrevista que deu há alguns dias tenha apontado as falhas básicas do Projecto Roquette.

E a razão pela qual afirmo a sua incompetência está á vista de todos, mesmo que o discurso utilizado seja o da desresponsbilização e o de atirar as culpas para as costas do tal Bin, ou da bolha de não sei o quê.

Seria entediante comentar a extensa entrevista que deu, razão pela qual, sem entrar na gestão puramente desportiva, prefiro deixar os pontos que considerei mais relevantes, seguidos de um pequeno comentário.

“Esta via que estamos a seguir, se nada fizermos, pode ser uma via de empobrecimento porque os juros e o capital são para ser pagos e do lado dos activos temos rendas de um centro comercial e de um edifício. E nada nos garante que o inquilino não possa mudar de prédio ou que os inquilinos do centro comercial nos paguem as rendas”

Entrada de Leão, começando logo o desacerto.

Pode pôr em causa, como aliás faz, a capacidade do Sporting em suportar os investimentos, sobretudo quando o estudo que os originou foi certamente falseado de forma a permitir os negócios que interessavam fazer, mas não é honesto afirmar que nada garante a realização financeira do planeado... ou melhor, para um mau gestor a realidade é essa, só que me parece mais controlável gerir este tipo de negócio que o do futebol, numa área onde os conhecimentos escasseiam e onde, por assumida atitude, os nossos dirigentes nunca estiveram “á altura” de jogar o jogo dos “meninos maus”.

“A alienação é um acto de gestão perfeitamente normal”

Pois é... mas não de planeamento estratégico a médio/longo prazo.

“A questão que se põe é esta: um clube que tem uma sociedade desportiva tem a legitimidade e vocação/competência para gerir risco imobiliário contra passivo financeiro? Na minha opinião, não tem nem nunca teve”

Porque não? Aliás, onde está a relação entre a sociedade desportiva e a financeira?

Não tem o Sporting um campo de recrutamento extenso, de Sportinguistas capazes, que muito mais facilmente se adaptariam a uma realidade financeira de um Clube desportivo apostado noutros campos, que no mesmo Clube apostado exclusivamente para a área do futebol profissional?

Mas mesmo esqucendo essa questão, que andou então o Dr. Bettencourt a fazer quase 3 anos no Sporting, num projecto em que não acreditava, com uma estratégia a seu ver totalmente errada?

“Um clube desportivo não tem uma gestão tão ágil nem dinâmica como uma empresa que é de dois ou três accionistas. Há a necessidade de auscultar os sócios. Recordo que todos os passos que o Sporting deu em termos do seu projecto empresarial foram sufragados pelos associados em assembleia”

Mas qual é a empresa, no mundo negocial de hoje, que é de apenas 2 ou 3 accionistas?

Provavelmente o Sporting, absoluto dono e senhor do rumo estratégico a seguir pelo seu grupo de empresas, sem ter que dar “cavaco” aos accionistas.

Terá naturalmente que apresentar as medidas aos sócios do Clube e obter a sua aprovação, mas tal como o Dr. Bettencourt prontamente relembra, os sócios do Sporting puseram-se ao lado das medidas propostas sem sequer pestanejar, o que quer dizer que não foi a particularidade de estarmos perante um Clube desportivo com regras diferentes das de uma empresa “normal” que impediu a adopção do plano escolhido pelos “amigos” do Dr, Bettencourt.

“Por isso, a questão da auditoria é uma polémica que não entendo. As contas felizmente são auditadas. Algumas pessoas esquecem-se de que muita coisa mudou em relação ao tempo em que foram dirigentes e uma delas é essa. Todos os relatórios estão disponíveis, foram aprovados em assembleia e são auditados com um rigor extraordinário”

O que as pessoas não se esquecem é que as contas auditadas são as da SAD para o futebol, não as do Clube ou mesmo das outras SAD do grupo.

E não se esquecem também que a auditoria é feita de acordo com a documentação que a sociedade apresenta, uma vez que não existe a obrigatoriedade de auditar “a fundo”, pelo que existem áreas do negócio que não são auditadas.

Já quanto á aprovação, nomeadamente dos resultados dos exercicios dos ultimos anos, é algo que deveria ser investigado para tentar perceber como e quem aprovou resultados tão espantosamente lesivos para o Sporting.

“O dr. Dias da Cunha herdou uma tarefa difícil com o enorme peso dos investimentos feitos e um universo Sporting muito dividido. Houve que pacificar as hostes mas também contou com a solidariedade de algumas pessoas. Por exemplo: não fosse aliás a grande atmosfera de cumplicidade entre ele, o dr. Ribeiro Teles e eu, o Sporting não teria sido campeão em 2002”

Quanto á parte de pacificar as hostes, estamos conversados, que não gosto que me tratem como atrasado mental.

De resto realce para um narcisismo de que não o julgava capaz, tendo em conta o seu discurso habitual de “trabalho em equipa”.

O que fica para comentar é notar que no principio da entrevista menciona a importância de Dias da Cunha para a implementação do Projecto e agora passa para o “herdar” uma situação dificil. Afinal em que é que ficamos?

Ahhh, quem deve ter ficado satisfeito ao ler estas linhas foram os jogadores, técnicos e assistentes, que pelos vistos não tiveram um pingo de responsabilidade no feito.

“Quando descobrimos um Liedson que custou 600 mil euros, fomos enxovalhados por que era um lingrinhas e um rapaz que trabalhava num supermercado. Hoje é público que o Deivid custou bastante mais do que Polga e Liedson juntos”

Ou foi engano de quem publicou, ou esquecimento do entrevistado, mas não custou Liedson 3 milhões de euros?

E Polga outros 2 milhões?

Não estará aqui parte da explicação para os problemas do Sporting... esta inabilidade em fazer contas?